Conto: Sobre Contos de Fadas

Conto macabro. Uma celebração ao mês do terror e claro bem escrito. Bem criativo.




"Uma senhorinha, trajada com vestes brancas e um cordão prata na cintura, adentrou em uma gruta de Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Logo de cara, encontrou muitas estalactites e pouquíssimas estalagmites (o que permitia andar de pés descalços mais facilmente). Após caminhar dez minutos dentro da gruta, ela se deparou com uma formação rochosa que se assemelhava a um bolo de casamento.
Tirou a bolsa vermelha que carregava e colocou no chão. Inspirou profundamente com os olhos fechados e as mãos espalmadas apontando para cima da gruta. Neste momento de pura concentração e silêncio inquietantes, a dama de branco pisa com o pé direito no chão da gruta com toda a sua força. Tal perturbação assustou algumas estalactites e uma que estava a um palmo, mas à frente da senhora, cai e se fixa no chão.
Areia começa a sair deste buraco e, logo em seguida, a luz do sol penetra naquele local de penumbra, com enfoque especial na estalactite. Esta, por sua vez, é oca e bem esbranquiçada. A mulher sai da sua posição e vai em direção à bolsa vermelha, retirando algumas ervas e uma flor que aparentava ser lavanda. Colocou tudo isso dentro da estalactite que ficara presa ao chão e ateou fogo na mistura de ervas. Em questão de minutos, a gruta estava preenchida com fumaça. Não era aquelas com um cheiro forte de carvão, mas um toque doce e agradável de lavanda. Além de permitir um efeito Tyndall interessante devido à luz do sol que por ele entrava, o buraco sobre a senhora permitia que parte da fumaça saísse para que ela não se sufocasse. Algum tempo depois, partes do bolo de casamento começaram a trincar, revelando algumas gemas preciosas ainda brutas. Vermelho, dourado, transparente, verde, azul turquesa, azul naval, rosa... Diversas cores. A senhora tira o cordão e coloca-o dentro da estalactite caída, segurando-o pela ponta. O cordão, que antes era mole, começa enegrecer e tomar forma. Ele se parte, sobrando, na mão da mulher, um bastão negro com uma ponta prateada que se assemelha a uma varinha. Ela observa qual o caminho dentro da gruta que a fumaça percorre e utiliza da sua varinha recém-criada para segui-la formando, depois de um tempo, um fio tênue da cor da lavanda. Ela, a senhora, lança, com o auxílio da varinha, este fio na direção do bolo de casamento. Ele começa a circundar gema por gema, até que todas estejam conectadas por intermédio do fio de fumaça. A cena é bela. Os cristais trincam e as partes que estão à mostra caem e rolam aos pés da senhorinha. De dentro deles, belas criaturas da coloração de seus respectivos cristais aparecem. Batem suas delicadas asas em direção à senhorinha cujos olhos brilham demonstrando encanto. As fadas envolvem-na e seus brilhos se destacam ainda mais na vestimenta branca. Uma fada branca força as duas mãos no globo ocular da mulher. Simultaneamente, outra fada faz o mesmo no outro olho. O conjunto de fadas que antes envolviam afavelmente a humana agora trabalham como vespas em uma vítima: mordendo e fazendo-a sangrar. A fumaça toma a cabeça, impedindo a senhora de respirar com facilidade. Sangue sai pelos olhos e pelos arranhões e mordidas das fadas. 

A senhora tomba ao chão, morta.

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